Quando paramos para pensar às vezes chegamos a algumas constatações que, de modo até surpreendente, nos fazem rever alguns conceitos. Outro dia, conversando com alguns colegas, perguntei a eles quando acreditavam que o EAD (Ensino à Distância) havia sido realmente criado / implementado?
Quando paramos para pensar às vezes chegamos a algumas constatações que, de modo até surpreendente, nos fazem rever alguns conceitos. Outro dia, conversando com alguns colegas, perguntei a eles quando acreditavam que o EAD (Ensino à Distância) havia sido realmente criado / implementado?Cercados pelos saltos tecnológicos da atualidade e uma infinidade de opções metodológicas que povoam o aprendizado em nosso novo mundo, novo em alguns aspectos, mas certamente bem antigo em tantos outros, muitos focaram seu raciocínio neste século. Alguns mais velhos, mas não necessariamente mais antigos, se lembraram dos famosos cursos por correspondência. Procurando na internet, até como referência para meus argumentos ao escrever este texto, encontrei o link de uma instituição muito conhecida que oferecia estes cursos e cuja chamada era a seguinte: "Cursos profissionalizantes, técnicos e supletivos médio e fundamental. Cursos online e apostilados com certificado. Tradição em EaD desde 1941". Parece que estes tipos de curso "por correspondência / correio" devem ter se tornado muito raros, se é que ainda existem na sua forma original.
Na verdade, andando um pouco mais para trás no tempo, podemos chegar ao ponto de vista de que o EAD teria surgido em seus primórdios com o próprio aparecimento da escrita. Voltamos tão longe quanto a "escrita" rupestre. A partir do momento que tivemos papiros e depois os livros o EAD se consolidou. Isto porque podemos constatar que a partir do momento em que o conteúdo de um aprendizado chega ao aprendiz sem a presença de quem produziu e consolidou inicialmente o conhecimento isto já caracteriza um ensino à distância.
Neste ponto, surge também os primórdios da inteligência aumentada. A partir do momento que temos mais de um indivíduo usufruindo dos recursos e benefícios do EAD, principalmente se o aprendizado acontece de forma simultânea e ainda mais em conjunto, em alguma forma de rede, iniciamos os primeiros passos até chegarmos ao que hoje alguns chamam de super mentes (super minds). A essência dos princípios e conceitos ao longo de toda a jornada, no entanto, permanecem os mesmos.
A tecnologia tem evidentemente dado saltos extraordinários. A invenção e consolidação da internet potencializou as redes a uma complexidade e efetividade antes imagináveis apenas na ficção. Ela permitiu um funcionamento das super minds, na combinação de pessoas, redes, potencial computacional e algoritmos (o aprendizado de máquinas está na linha de frente deste salto evolutivo), em um outro patamar e com um potencial enorme, naquilo que ela tem de bom, para elevar os padrões humanos nas suas mais diversas dimensões.
Muitos se sentem tão intimidados com a tecnologia que se esquecem que as ancoras estão na verdade nos princípios. De certa forma isto acontece porque os "sistemas operacionais" deste novo mundo ainda se "parecem" com o DOS da época dos PCs de telas verdes. Mas é certo que teremos em um futuro próximo, para muitas das coisas relacionada à inteligência expandida e a inteligência artificial dela derivada, vários tipos de sistemas operacionais (como novos "Windows", "IOSs", "Androides", etc) que permitirão aos usuários finais, isto é, a grande maioria de nós, uma interação com a IA em patamares muito mais amigáveis (user friendly).
Embora o contexto da inteligência aumentada, das super minds e da inteligência artificial possa ser visto sob diversas perspectivas, vamos simplificadamente focar em duas que denominaremos a Acadêmica e a de Resultados Aplicados. Aqui cabe uma metáfora: a acadêmica está focada em aprender a construir um carro e a de resultados aplicados em dirigir este carro. Claro, o motorista tem de entender minimamente sobre carros. Entender sua dinâmica, um pouco sobre seus componentes principais e como eles se relacionam, seus modelos e quais são os mais adequados para diferentes situações e necessidades e até mesmo perceber que o futuro deles deve caminhar para modelos com novos combustíveis como o hidrogênio, os híbridos e os elétricos. E com os carros autônomos, para aqueles focados em resultados aplicados o objetivo passará a ser como melhor atender às necessidades de transporte ou conexão para alcançar o seu destino. Seja de forma física ou virtual.
A mensagem aqui é que para a maior parte dos profissionais do futuro, como vem acontecendo desde sempre, a tecnologia é será uma ferramenta e não um fim em si mesmo. Muitos se assustam ao confundir as duas coisas seja na vida pessoal ou profissional. As tecnologias para o aprendizado e o exercício profissional continuarão a evoluir. Linguagens de programação também vão evoluir e novas surgirão. Novas tecnologias vão obviamente ajudar também, e muito, as pessoas da área de tecnologia. Neste avanço nenhuma área do conhecimento ou profissão é exceção. EADs e IAs estão aí desde muito tempo e sempre contribuíram de forma determinante para chegarmos onde chegamos. Continuará sendo assim. Aprendemos a construir carros, a gostar deles e a dirigi-los. Novas máquinas virão e aprenderemos a construí-las, a gostar delas e a dirigi-las também. Vai ser um processo natural. Embora bem mais acelerado este processo acabará sendo absorvido por nós quase "instintivamente". Não estou subestimando os desafios. Eles sempre existiram e sempre existirão. Alguns de ordem social mais do que nunca demandam particular atenção e cuidado. E, quem sabe, a própria IA vai acabar nos ajudando a resolver até mesmo este desafio...
*Professor da EMGE (Escola de Engenharia e Ciência da Computação)
Fonte: Dom Total