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Qui, Abr

A aprendizagem em tempos de convergência digital e a valorização do professor

Notícias EAD

As pessoas aprendem de formas diferentes em tempos de convergência digital. A onipresença das telas no cotidiano e a atenção crescente dada aos conteúdos e interações que as mesmas proporcionam muda a maneira com que o cérebro percebe e processa a informação. É preciso lembrar que o que nos torna humanos é a nossa propensão para aprender e ensinar.

As pessoas aprendem de formas diferentes em tempos de convergência digital. A onipresença das telas no cotidiano e a atenção crescente dada aos conteúdos e interações que as mesmas proporcionam muda a maneira com que o cérebro percebe e processa a informação. É preciso lembrar que o que nos torna humanos é a nossa propensão para aprender e ensinar.

Uma ferramenta pode ser definida como algo que amplia física ou mentalmente a capacidade humana para realizar algo. Ferramentas fazem parte de nossa cultura – isso inclui qualquer tipo de tecnologia. De acordo com o biólogo e geneticista Adam Rutherford (2020) *, a evolução cultural e a evolução biológica estão intrinsecamente ligadas, sendo que a melhor forma de pensar sobre esse fenômeno é como uma coevolução genético-cultural.

Ou seja, segundo o autor, “a biologia possibilita a cultura e a cultura muda a biologia”. É plausível imaginar que o advento da Internet, das redes sociais, dos games e as mudanças na indústria do entretenimento geradas pela convergência digital impactam o aprender, tanto com efeitos positivos quanto negativos. Por exemplo, a ideia de que somos capazes de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo (multitarefas) não condiz com a aprendizagem que se espera para gerar uma memória de longo prazo.

Segundo alguns autores das Ciências Biológicas e da Saúde, as teorias da aprendizagem ainda se encontram em uma fase pré-científica, relacionando exemplos de sucesso na aprendizagem, esclarecendo e separando práticas eficientes de ensino. Esperam que as técnicas de imageamento cerebral permitam chegar à definição de uma teoria capaz de prever o que realmente leva ao aprender. Os educadores e pesquisadores da educação se apoiam na psicologia, filosofia, sociologia e outros campos do saber para construírem seus fundamentos teóricos. E sabem que, como tudo que depende do relacionamento humano, a educação precisa também de análises a partir das Humanidades para ser plenamente compreendida.

De acordo com a OCDE (2003) **, a Psicologia Cognitiva tem trazido uma boa contribuição, no levantamento de hipóteses sobre os mecanismos que geram comportamentos de raciocínio e aprendizagem. A Neurociência estuda e determina – ou confirma -, o que são esses mecanismos. O que já se sabe é que o cérebro é plástico, ou seja, continua a se desenvolver, a aprender e a mudar, do nascimento até a senilidade ou morte. E que a aprendizagem requer a experiência da emoção, portanto, o corpo inteiro pode participar do processo de aprendizagem.

O fato da Internet ter tornado obsoletas as bibliotecas e enciclopédias, enquanto repositórios informacionais, exigiu que os profissionais da informação (bibliotecários) passassem a ter um papel cada dia mais proativo na curadoria empática, em meio à abundância quase infinita de recursos – sejam textos, áudios, vídeos, objetos de realidade ampliada ou virtual. Experiências de aprendizagem passaram a ser idealizadas para manter o engajamento dos públicos, o mesmo movimento que tem transformado o dia-a-dia dos melhores museus, planetários e aquários espalhados pelo mundo.

A simples disponibilidade da informação não é sinônimo de uma boa construção do conhecimento. E a forma como as redes sociais crescem de importância e em sua influência junto aos brasileiros ressalta as fragilidades de se informar sem ter um crivo bem desenvolvido, o pensamento crítico, algo que exige a interação social e a mediação de um bom professor para se desenvolver plenamente.

Uma das lições que a pandemia deixará para a gestão escolar e universitária é que as mudanças no aprender impulsionadas pelas tecnologias exigem a valorização docente. A escola que se materializou dentro das casas, por meio do ensino remoto, explicitou a complexidade dos processos educacionais sob a responsabilidade dos educadores, tanto professores como dos demais profissionais da educação.

De acordo com uma ampla pesquisa realizada recentemente pela Fundação Varkey (2020) ***, há uma relação direta entre o status que a sociedade atribui à profissão do professor e os resultados de aprendizagem alcançados pelos alunos.

A pesquisa verificou três definições diferentes de status do professor e suas respectivas medidas. Primeiramente, como as pessoas classificaram os professores em relação a outros ocupações, em termos de respeito.

Em seguida, o status implícito do docente, a partir de como as pessoas responderam a uma palavra rápida em testes de associação que avaliam as percepções implícitas a respeito dos professores.

Por fim, quanto ao status explícito do docente, como as pessoas responderam a uma série de perguntas sobre os atributos dos professores e as suas condições de trabalho - incluindo seu nível de capacitação, qualidade geral e avaliação profissional.

O ranking revela que o Brasil é um dos países que menos valoriza a profissão docente no mundo, com pequenas diferenças de grau entre professores do ensino fundamental e médio. Essa é uma questão cultural de fundo que precisa ser trabalhada, pois não é possível conceber uma nova escola sem a participação democrática, o engajamento e a capacitação permanente dos educadores.

Referências:

* RUTHERFORD, A. O livro dos humanos: a história de como nos tornamos quem somos. Rio de Janeiro: Record, 2020.

** OCDE. Compreendendo o cérebro: rumo a uma nova ciência do aprendizado. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003.

*** DOLTON, P.; DE VRIES, R. Reading between lines: what the world really thinks of teachers. Varkey Foundation, 2020.

Fonte: Bett Educar | Autor convidado: Luciano Sathler