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Qui, Abr

As aulas remotas precisam ser chatas?

Notícias EAD

Aulas online podem ser enfadonhas às vezes. Embora ensinar seja normalmente algo exaustivo, muitos professores e alunos passaram a experimentar níveis mais elevados de cansaço e maior frustração com a pouca efetividade de seus esforços após a maciça migração para a interação majoritariamente realizada por videoaulas ao vivo.

Aulas online podem ser enfadonhas às vezes. Embora ensinar seja normalmente algo exaustivo, muitos professores e alunos passaram a experimentar níveis mais elevados de cansaço e maior frustração com a pouca efetividade de seus esforços após a maciça migração para a interação majoritariamente realizada por videoaulas ao vivo.

O ensino remoto pode ser extenuante se replicar o que já não é recomendável nas salas tradicionais das escolas, a exemplo da ênfase somente em aulas expositivas com pouco ou nenhum desenvolvimento de metodologias ativas.

Chamou a atenção de muitos uma notícia recente sobre um professor da Universidade Nacional de Singapura, que ministrou uma videoaula síncrona online e só percebeu que seus alunos não o ouviam depois de duas horas de aula*.

Ministrar aulas presenciais permite avaliar mais facilmente as emoções de quem está presente, mesmo em meio a temas que exigem um alto nível de nuance de conversação e empatia. Algo muito mais complicado de se realizar no espaço virtual.

O cansaço acumulado ao final do dia tem sido experimentado por alunos, professores e em diferentes profissões. É algo tão disseminado que ganhou um nome: fadiga do Zoom, embora essa exaustão também se aplique se você estiver usando o Google Hangouts, Skype, FaceTime ou qualquer outra interface de videochamada. Atrasos de milissegundos em respostas verbais virtuais afetam negativamente nossas percepções interpessoais, mesmo sem qualquer problema técnico ou de internet. A falta do olhar mútuo direto reduz a elaboração de respostas mais rápidas, piora a memorização de faces e impacta negativamente a empatia. No vídeo, o olhar deve ser direcionado para a câmera, o que dificulta sobremaneira distinguir o olhar mútuo mesmo entre duas pessoas.**

O confinamento da sala de aula a uma tela pequena apresenta poucas distrações óbvias. Vale lembrar que nós nos comunicamos mesmo quando estamos quietos. Durante uma conversa, o cérebro se concentra parcialmente nas palavras que estão sendo faladas, mas também obtém um significado adicional de dezenas de pistas não-verbais, como se alguém está de frente para você ou ligeiramente virado para longe, se está inquieto enquanto você falar, ou se inspira rapidamente em preparação para interromper.

Esses sinais ajudam a pintar uma imagem mais abrangente do que está sendo percebido e do que é esperado como resposta do ouvinte. Perceber essas dicas é algo natural para a maioria de nós, exige pouco esforço consciente para serem analisadas e podem estabelecer a base para maior proximidade emocional.

No entanto, uma videochamada típica prejudica essas habilidades arraigadas, pois requer atenção contínua e intensa às palavras. Se uma pessoa for enquadrada apenas dos ombros para cima, a possibilidade de ver gestos com as mãos ou outra linguagem corporal é eliminada. Se a qualidade do vídeo for ruim, qualquer esperança de extrair algo de pequenas expressões faciais é frustrada.

Telas de várias pessoas ampliam esse problema exaustivo. O modo de exibição de galeria, onde todos os participantes da aula aparecem, desafia a visão central do cérebro, forçando-o a decodificar tantas pessoas ao mesmo tempo que ninguém chega a perceber realmente o outro de forma significativa, nem mesmo o professor.

O que parece aumentar é a chamada ‘atenção parcial contínua’, algo que se aplica tanto aos ambientes online quanto aos físicos. Isso leva a problemas nos quais os chats de vídeo em grupo se tornam menos colaborativos e mais parecidos com painéis isolados, nos quais apenas duas pessoas conversam por vez enquanto o restante ouve.

Como cada participante está usando um fluxo de áudio e está ciente de todas as outras vozes, conversas paralelas são impossíveis. Se você vê um único alto-falante por vez, não consegue reconhecer como os participantes inativos estão se comportando - algo que você normalmente perceberia com a visão periférica.

Para algumas pessoas, a divisão prolongada de atenção cria uma sensação desconcertante de estar esgotado sem ter realizado nada. O cérebro fica sobrecarregado por estímulos em excesso não familiares enquanto fica muito focado na busca de pistas não verbais que não consegue encontrar.

No geral, o bate-papo por vídeo permitiu que as conexões humanas florescessem de maneiras que seriam impossíveis apenas alguns anos atrás. Essas ferramentas nos permitem manter relacionamentos a distância, conectar escolas remotamente e, mesmo agora, apesar da exaustão mental que podem gerar, promover algum senso de união durante uma pandemia. Usá-las de forma criativa, crítica e com a incorporação de metodologias ativas pode diminuir a sensação de stress que tem acompanhado o início do ano letivo ainda mediado total ou parcialmente pelas telas. A figura que ilustra esse texto traz alguns dos princípios psicológicos de uma prática didático-pedagógica centrada no aluno.

* Professor dá aula pelo Zoom por 2 horas até perceber que estava 'no mudo'. Disponível em www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/02/11/professor-da-aula-pelo-zoom-por-2-horas-ate-perceber-que-estava-no-mudo.htm acesso em 13/02/2021.

** LEE, Jena. A neuropsychological exploration of zoom fatigue. Disponível em www.psychiatrictimes.com/view/psychological-exploration-zoom-fatigue acesso em 13/02/2021.

Fonte: Bett Educar