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Sáb, Abr

Professores analisam ensino na pandemia e divergem sobre tendência do EAD na rede pública

Notícias EAD

Educadores relatam desafios encarados durante a pandemia e avaliam que a relação entre o professor e o aluno continua sendo indispensável no processo de aprendizagem.

Educadores relatam desafios encarados durante a pandemia e avaliam que a relação entre o professor e o aluno continua sendo indispensável no processo de aprendizagem

Há pouco mais de um ano temos vivido uma pandemia que mudou relações interpessoais seja no trabalho ou comunidade. Tão logo fora noticiada a gravidade das infecções por COVID-19 e o alastramento do contágio no país, atividades como as escolares, deixaram de ser realizadas no modelo tradicional, e como a pandemia durou mais do que o esperado, logo governos municipais e estaduais iniciaram projetos de ensino remoto, alunos que tinham acesso a internet recebiam o conteúdo de forma online, sendo que aqueles sem acesso passaram a receber apostilas com conteúdo impresso. Uma forma de levar conhecimento já existente, mas até então pouco ou nunca utilizado nas escolas públicas.

A reportagem do Portal SMO ouviu alguns professores de São Miguel do Oeste que relataram as impressões obtidas nesse período de pandemia, e que servem para uma reflexão sobre esse modelo educacional, implantado de forma emergencial na educação do país.

A professora de geografia Angela Bedin Siebel, que leciona na E.E.B. São Miguel e E.E.B. Alberico Azevedo relata que no ínicio foi necessário um intenso processo de adaptação.

“As aulas ocorreram normalmente até 17 de março e foi aí que iniciou o afastamento do modelo presencial. No primeiro momento a gente até achou que seria por um período bem curto, ficamos tranquilos, mas foram passando os meses, isso não aconteceu, aí tivemos a implantação do modelo remoto. Nesse período recebemos algumas orientações e um curso de formação a nível de estado, para aprender a lidar com a ferramenta online de ensino do Google Classroom, que foi adotada pelo estado, para que as tarefas fossem passadas para os alunos, precisamos dominar isso. A gente nunca tinha utilizado, então foi bem difícil para mim em especial, até porque tenho 30 anos de sala de aula, venho daquele sistema de quadro de giz, modelo de aula explicativa com o aluno na frente, e de uma hora para outra etivemos que nos reinventar com as condições da gente, ficando em casa, utilizando recursos pessoais, internet, computador e celular”, diz Siebel.

Angela tem a visão de que o aprendizado não foi satisfatório, onde muitos alunos acabaram avançando de ano letivo, mas tiveram um prejuízo considerável no aprendizado.

A professora Daniela Gava Mileski, especialista em ciências biológicas que leciona ciências e biologia na EEB Alberico Azevedo e EEB São João Batista, afirma que ano letivo de 2020 com o ensino durante a pandemia foi e está sendo um grande desafio.

“Tivemos que replanejar todas as aulas, usando diferentes tecnologias, muitas vezes, ferramentas inovadoras, sem ter um tempo adequado para o planejamento. Mediar o conteúdo a todos os alunos, inclusive aqueles que não tem acesso à internet com aumento de trabalhos burocráticos, sendo que passamos a não ter mais horário de trabalho – alunos nos solicitavam a qualquer momento do dia”, diz Daniela.

Diagnosticar o processo de ensino aprendizagem, através da avaliação, com o aluno estando em casa, também é encarado por Daniela como outro desafio no período de ensino remoto. Muitas metodologias de aulas práticas, experimentais e trabalhos em grupo tiveram que ser substituídas, devido as regras de cuidado com o contágio.

A pedagoga Luciane Silvia Almeida Kochem, que neste ano atua na E.E.B. Alberico Azevedo, também afirma que existiu uma certa sobrecarga para os educadores durante o ensino na pandemia.

“Uma sobrecarga muito além do horário de oito horas diárias. Principalmente à noite, pois este é o horário que os pais estavam em casa, após o dia de trabalho. Chamavam para orientações, perguntas sobre os conteúdos em estudo. Nos finais de semana muitas vezes nem tinha. Era sempre as famílias chamando. Nas séries iniciais, muitas vezes explicava os conteúdos para os familiares, depois eles transmitiam aos filhos. Dependendo sempre da realidade familiar. Muito trabalho, dedicação e não tinha como não atender, pois a criança, a família precisava conciliar trabalho, estudo, rotina. E foi necessária muita parceria, diálogo, ajuda entre a família e a professora/ escola”, diz Kochem.

Modelo Híbrido

Neste ano, com a implantação do modelo híbrido em que os alunos estudam uma semana em casa e outra na escola, o panorama tem sido ameno para os profissionais da educação, pois na semana em que o aluno vem para a escola, os professores encaminham todo o conteúdo que deve ser visto pelos alunos na semana em que permanecem em casa.

“No ano passado eles não tinham hora para chamar, pois muitos às vezes só conseguiam ter acesso a internet quando o pai ou a mãe chegavam em casa com o celular, e quando precisavam tirar alguma dúvida, nos chamavam. Nesse em que foi implementado o tempo casa e o tempo escola, uma semana o aluno vem na escola e na outra semana ele fica em casa, porém quando ele não vem para escola, tenho que preparar todo o conteúdo da aula e aí faço todos os encaminhamentos para a semana seguinte”, Diz Mileski.

A professora avalia positivamente o modelo híbrido, pois mantêm uma rotina escolar, permitindo a mediação presencial do professor nas atividades. Aumenta o rendimento do conteúdo e a atenção ao aluno em sala de aula, com o número reduzido de alunos e acredita que esse deveria ser o número ideal das turmas.

‘Meio a Meio’

A professora de geografia Ângela Bedin, concorda que o modelo híbrido trouxe alguns avanços, se comparado a realidade vivida em 2020, mas acredita na efetividade da educação presencial.

“Se a gente analisar a relação de conhecimento, o ensino híbrido também apresenta defasagem, pois o aluno vai ficar 50% apenas do tempo conosco na escola, e 50% em casa, mesmo assim, tendo consciência dessa perda que o aluno tem por não estar todos os dias na escola, este modelo é mais satisfatório no quesito aprendizado, do que o aluno ficar apenas no ensino remoto”, diz Ângela.

A professora de artes Katia Diana Dill, que também trabalha na E.E.B. Alberico Azevedo, destaca que às vezes falta compromisso por parte de alguns alunos quando estão em casa, e isso impacta negativamente no aprendizado.

"Acredito que fique alguma defasagem na aprendizagem, já ficou no ano passado e nesse ano, nessa estratégia do tempo escola, tempo casa, vemos que as vezes alguns alunos não tem a compreensão de que o tempo casa não é férias, é um tempo para estudar, mas acredito que nós estamos fazendo o melhor que a gente pode. Teremos que dar um jeito de recuperar o que vai faltar com esse déficit na aprendizagem", destaca Katia

Desafios ainda persistem

Por outro lado, segundo Daniela, os desafios para os educadores continuam com uma rotina das aulas, que se tornaram mais cansativas, devido ao uso de máscaras e ter que falar o tempo todo, pois é necessário explicar todo o conteúdo, esclarecer dúvidas e encaminhar atividades para a semana em que os educandos ficam em asa. A sobrecarga de trabalhos burocráticos, elaboração de planos para grupo A e B, bem como a adaptação aos alunos que voltam do ensino remoto ou que ficam dias isolados, também são encarados como desafios na educação nesse ano.

Avanço tecnológico e relações educacionais

A professora entende que muitas das tecnologias implementadas na pandemia deverão continuar e farão parte da realidade, porém enfatiza que a relação entre o professor e o aluno é indispensável.

“Acredito que no momento, o modelo TEMPO CASA, TEMPO ESCOLA, ainda é o que mais funciona; não podemos trabalhar com salas cheias, que é a realidade do ensino público. A tecnologia e aulas a distância já fazem parte de muitos cursos, é uma metodologia eficiente, mas tem que estar acessível a todos os alunos. Nós professores estamos a todo momento nos desafiando e nos reinventando, com certeza várias metodologias deste ensino remoto serão utilizadas na sala de aula, mas nada substitui a aula presencial, o diálogo professor / aluno é primordial na construção do conhecimento”, afirma a professora Daniela.

Nessa direção, Luciane Silvia ainda destaca que as tecnologias fazem e farão cada vez mais parte do cotidiano, porém na educação, principalmente nas séries iniciais não é cabível totalmente o ensino remoto, visto que para ela é essencial o contato direto entre o docente e o educando.

“É possível, mas nas séries iniciais acredito ser muito difícil o ensino remoto. A criança precisa se alfabetizar, precisa interagir e a troca com os colegas proporciona aprendizagem. Cada nível/ série/ano que a criança vai avançando, necessita aprender os sons das letras, a grafia, enfim um universo de conhecimentos científicos que são proporcionados somente de forma presencial, no espaço da sala de aula, na instituição escolar. É preciso ver, ouvir, para aprender”, diz a pedagoga.

A professora de artes Katia Diana Dill corrobora com o que observa Luciane Silvia, os alunos do ensino médio tem uma facilidade maior no trato do ensino remoto, porém as séries iniciais são dependentes da presença do educador.

“Eu acredito que que ela quase alcançou um nível satisfatório, pelo menos nas séries de 6º ao 9º ano, dentro da minha disciplina, os alunos, a maioria fez as atividades, tivemos problemas com poucos na questão da devolutiva das atividades. Mas alunos do primeiro ao quinto ano dos anos iniciais tiveram muita defasagem, eles não conseguem ter um bom aprendizado sem a professora presenta dando a explicação. A didática que os professores utilizam na aula facilita a aprendizagem, pois ali ele tem um caminho a ser percorrido, tem um objetivo e para os pais entenderem isso e passarem para os seus filhos fica difícil, pois os alunos não entendem a linguagem dos pais muitas vezes. Então esses alunos do primeiro ao quinto ano não conseguiram absorver muita coisa”, diz a professora.

Aprendizado

Aprendizado todos certamente carregam com essa pandemia, como é o caso da pedagoga das séries iniciais, Luciane Silvia Almeida Kochem.

“Vivemos um momento nunca imaginado. Toda a rotina mudou. Foi necessário sair da zona de conforto e buscar alternativas para continuar atuando em nossa profissão. A pandemia nos tirou o chão, porém muito nos ensinou. Hoje são muitas as indagações, incertezas. Muitas inseguranças diante de tantas mudanças. Acredito que os desafios nos fazem crescer, buscar respostas. Diante desta nova realidade que vivenciamos tudo mudou, o dito ‘normal’, nunca mais será como antes. Nós professores nos desafiamos e desacomodamos. Não foi fácil, mas estamos de cabeça erguida e atuantes na brilhante profissão de ser professora.”, diz Kochem.

Katia destaca que as dificuldades trazidas pela pandemia têm exigido mais dos professores, sendo que é preciso fazer o melhor com aquilo que se tem em mãos.

"O ano passado foi um ano difícil, esse ano também está sendo totalmente diferente, estamos nos reinventando a cada dia, buscando novas possibilidades de ensino, com aulas mais atrativas e que façam a diferença em todas as áreas, seja nos anos iniciais ou no ensino médio. Sempre tentamos repassar o conteúdo da melhor forma para que os alunos possam entender, pra que ele possa internalizar esse ensino", diz a professora Katia.

Séries iniciais

Kochem avalia como positivo o ensino durante o ano passado, pois boa parte dos alunos tiveram apoio dos pais, porém aqueles alunos sem acesso direto a internet sofreram mais.

“Sabemos que as famílias que estiveram presentes e atuantes junto com seus filhos, a aprendizagem foi possível. Como sou pedagoga, nas séries iniciais do ensino fundamental, as crianças muitas vezes ainda não têm maturidade e independência para manusear e participar das aulas remotas pela plataforma online, porém dos 50% dos alunos da turma participavam dos meet semanalmente e foi possível perceber um domínio da ferramenta tecnológica e maturidade, havendo participação e consequentemente aprendizagem/ conhecimento. Já os alunos que realizaram somente as atividades impressas, sentiam mais dificuldades, mas através de chamada de vídeos pelo WhatsApp sempre foi possível motivar e resgatar os alunos que muitas vezes estavam desmotivados”, diz.

Fonte: Portal São Miguel