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Sex, Abr

Pesquisa mostra deficiências no ensino a distância

Notícias EAD

Alunos da rede municipal retornam às aulas presenciais em Rio Preto no dia 2 de fevereiro e pesquisa mostra deficiências no ensino causadas em mais de um ano de afastamento forçado das salas de aula.

Alunos da rede municipal retornam às aulas presenciais em Rio Preto no dia 2 de fevereiro e pesquisa mostra deficiências no ensino causadas em mais de um ano de afastamento forçado das salas de aula.

Sebasthyan, de 10 anos, filho da atendente Samantha Karina, sabe apenas escrever o nome. Murilo, de 9, filho da operadora de caixa Vanuci Bortolotto, só escreve em letras de forma e tem muita dificuldade em leitura. Ambos exemplificam bem o tamanho do desafio que a Secretaria de Educação de Rio Preto deverá enfrentar neste ano, com a retomada efetiva das aulas presenciais, a partir de 2 de fevereiro, após mais de um ano em que o ensino também sofreu com os efeitos da pandemia de Covid-19.

As fragilidades no plano de aprendizado foram identificadas com a aplicação da Avaliação Diagnóstica de Rede (ADR), entre os meses de agosto e setembro do ano passado, com 16.146 alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, o que corresponde a 74% do total de matriculados.

Entre os problemas apurados estão as dificuldades dos estudantes em localizar informações no texto, de compreender figuras de linguagem, analisar gráficos e tabelas, escrever o próprio nome, noções de proporcionalidade e de conversão de unidades de medida.

O estudo teve como objetivo avaliar o nível de aprendizagem dos estudantes em Língua Portuguesa e Matemática após o período de aulas remotas. E traçar estratégias pedagógicas de reforço e recuperação de conteúdo.

Embora a Secretaria de Educação tenha considerado satisfatórios os resultados obtidos por meio da avaliação, pais ouvidos pela reportagem sentem que os filhos sofreram atrasos no desenvolvimento pedagógico porque tiveram muita dificuldade de assimilarem o conteúdo didático transmitido durante um ano e quatro meses de isolamento social.

É o caso da dona de casa Lisiane Santos, mãe das gêmeas Esther e Emanuelle, de 7 anos.

“Elas cursaram o 1º ano em 2021 e passaram para o 2º sem saber as letras do alfabeto e os números. Não tiveram aulas com a professora, a gente apenas recebia o link de atividades no Youtube. Até cogitei solicitar a reprovação delas, porque para mim foi um ano perdido”, disse.

Escrita do nome

Segundo o relatório da Educação, 20% dos alunos de 1º ano não sabem escrever o próprio nome.

Para a pedagoga e mestre em Linguística, Ivanilde Moreira, o percentual é considerado aceitável dentro do contexto de escola pública.

“Antes mesmo da pandemia, os gestores da Educação sempre consideraram esse índice. Temos que entender que a escola pública acolhe estudantes de todas as classes sociais, e em múltiplos contextos. Um tem pais com curso superior, ganha livros de presente e tem acesso à tecnologia em casa. Outro é filho de mãe solo, que tem que batalhar para sobreviver e só chega à noite, cansada. Não podemos esperar que as crianças tenham o mesmo resultado pedagógico. Fatores emocionais e cognitivos também são considerados nesse grupo”, disse.

O relatório aponta ainda desempenho ruim dos estudantes do 6º ao 9º ano em Matemática, indicando que o conteúdo ministrado durante a pandemia precisará ser retomado em sala de aula. A média de acerto entre os estudantes do 6º ao 8º ano ficou entre 50% e 60%. Já entre os alunos do 9º ano, esse percentual cai para 29%.

Sobre o resultado obtido pelos estudantes na disciplina, a Secretaria de Educação afirma que, por se tratar da primeira avaliação em rede, não tem parâmetros anteriores para comparação, mas que a pandemia acentuou as dificuldades em todos os anos.

A autônoma Ana Maria Leite tem um casal de filhos com 9 e 10 anos, e notou a diferença do conhecimento entre eles na mesma etapa do ensino.

“Comparando meu filho, que fez a segunda série presencial, e a minha filha, que fez remota, é visível o grau de conhecimento, inclusive na leitura”, diz.


Secretaria visa qualificar professores
Para amenizar a defasagem apontada na avaliação diagnosticada, a Secretaria de Educação de Rio Preto decidiu que cabe à coordenação pedagógica de cada uma das 45 escolas identificar as dificuldades apresentadas pelos alunos e definir estratégias individuais de recuperação do conteúdo. O planejamento deve seguir as diretrizes do Conselho Nacional de Educação e focar habilidades essenciais do Currículo Paulista.

Paralelamente, a Educação informou que planeja promover ações de formação continuada dos professores, “considerando as necessidades apresentadas durante a rotina com os alunos”.

O Plano Nacional de Educação estabelece que até os 8 anos, correspondente ao 3º ano do ensino fundamental, a criança deve estar plenamente alfabetizada, o que significa saber ler e escrever.

Para a pedagoga e mestre em Linguística Ivanilde Moreira, o grande desafio das escolas é envolver a família no projeto de educação, garantindo uma gestão mais democrática e participativa. E consequentemente com melhores resultados.

“Essas famílias têm uma visão antiga do que é a escola ideal. Que foi o modelo que eles vivenciaram, ou seja, muito conteúdo, muita apostila, muita tarefa. Esta não é a realidade de hoje. A Educação se aperfeiçoou e se transformou em uma proposta de desenvolvimento de habilidades, e não para decorar conteúdos”, explicou. “Não podemos atribuir toda a responsabilidade da alfabetização às escolas”, acrescentou.

Para Fabiano de Jesus, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Municipal, a avaliação da prefeitura é positiva sobre o trabalho desenvolvido remotamente porque o nível de exigência educacional na pandemia foi menor.

“O conteúdo foi adaptado para ser viável a todos, diante das dificuldades de acesso à internet e considerando o contexto socioeconômico dos alunos. Agora é preciso recuperar o tempo perdido. E não vai dar tempo durante o turno de aulas, que já tem uma programação corrida. Vamos acompanhar e propor ideias sobre como pode funcionar o reforço complementar.” (JT)

Dificuldades identificadas na Avaliação Diagnóstica de Rede
Português

Localização de informações no texto
Deduzir com raciocínios
Leitura e interpretação de textos multissemióticos (com imagens, ícones, desenhos)
Linguagem conotativa (sentido figurado)
Leitura e interpretação de gráficos e tabelas

Matemática

Proporcionalidade
Escrever números com zero intercalado
Representação decimal de números racionais
Conversão de unidades de medida

Cronologia

Março 2020
Fechamento das escolas

Abril 2020
Aplicação das aulas remotas

Agosto de 2021
Retomada opcional das aulas presenciais para o ensino fundamental

Setembro de 2021
Retomada opcional das aulas presenciais do ensino infantil

Novembro de 2021
Obrigatoriedade da presença de alunos a partir de 12 anos

2 de fevereiro de 2022
Retorno presencial para início do ano letivo

Fonte: Diario da Região