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Sex, Maio

Anotar à mão rende mais aprendizado que no laptop, conclui novo estudo

Notícias EAD

Laptops e aplicativos de organização pessoal fazem com que o papel e a caneta pareçam antiguidades, mas a escrita à mão parece ajudar na concentração em sala de aula e estimular o aprendizado de um jeito que a digitação num teclado não é capaz, sugerem novos estudos.

Estudantes que tomam notas à mão geralmente têm um desempenho superior ao dos que tomam notas em seus computadores, concluíram pesquisadores da Universidade de Princeton e da Universidade da Califórnia de Los Angeles, a UCLA. Comparando com os que digitam suas anotações, pessoas que as escrevem à mão parecem aprender melhor, reter a informação por mais tempo e compreender mais facilmente novas ideias, de acordo com experimentos de outros pesquisadores que também compararam técnicas de fazer anotações.

As anotações escritas captam meu pensamento melhor do que digitando”, diz o psicólogo educacional Kenneth Kiewra, da Universidade de Nebraska em Lincoln, que estuda as diferentes formas como fazemos anotações e organizamos informações.

Desde os antigos escribas que usavam penas para escrever nos papiros, tomar notas tem sido um catalisador para a alquimia do aprendizado, transformando o que ouvimos e vemos em um registro confiável para estudos e revisões posteriores. Na verdade, há algo no ato de escrever que excita o cérebro, mostram estudos sobre imagens do cérebro. “Fazer anotações é um processo bem dinâmico”, diz o psicólogo cognitivo Michael Friedman, da Universidade Harvard, que estuda sistemas de fazer anotações. “Você está transformando o que você ouve em sua mente.”

Pesquisadores vêm estudando estratégias de fazer anotações há quase um século. Mas só recentemente, porém, eles se concentraram nas diferenças causadas pelas ferramentas que nós usamos para capturar informações. Fazer anotações com lápis de grafite, que passou a ser produzido em massa no século XVII, não é tão diferente do que usar uma caneta tinteiro, patenteada em 1827, uma caneta esferográfica, patenteada em 1888; ou um marcador com ponta de feltro, patenteado em 1910.

Hoje, porém, praticamente todo estudante universitário tem computadores portáteis; aulas são o principal veículo de ensino; e o barulho do teclado enquanto estão sendo feitas as anotações é a trilha sonora do ensino superior.

Normalmente, pessoas que fazem anotações da aula no computador fazem mais anotações e podem mais facilmente acompanhar o ritmo do que vem sendo dito do que as que estão usando papel e caneta, segundo verificaram os pesquisadores. Estudantes universitários geralmente digitam suas anotações de uma aula a um ritmo de 33 palavras por minuto. Já as pessoas que estão escrevendo suas notações anotam cerca de 22 palavras por minuto.

No curto prazo, vale a pena. Pesquisadores da Universidade de Washington em St. Louis descobriram em 2012 que as pessoas que tomaram notas em laptops e passaram por um teste imediatamente após a aula lembraram mais do conteúdo e tiveram um desempenho ligeiramente melhor do que seus colegas de classes que escreveram suas notas à mão. Os pesquisadores divulgaram seus experimentos com 80 estudantes no “Jornal de Psicologia Educacional”.

Qualquer vantagem, porém, se mostrou temporária. Após somente 24 horas, os que tomaram notas nos seus computadores geralmente tinham esquecido o conteúdo que tinham anotado, mostraram vários estudos. As anotações abundantes também não eram muito úteis para relembrar o que foi dito, porque elas eram superficiais.

Comparativamente, os que tomaram notas à mão lembravam o conteúdo por mais tempo e tinham uma melhor ideia dos conceitos apresentados em classe, mesmo uma semana depois. O processo de fazer as anotações à mão registrou a informações de forma mais profunda na memória, disseram especialistas. Anotações à mão também eram melhores para revisar o conteúdo da aula porque eram mais organizadas.

Em três experimentos feitos ao longo de 2014, os psicólogos Pam A. Mueller de Princeton, e Daniel Oppenheimer, da UCLA, fizeram com que os estudantes ouvissem palestras sobre temas variados, incluindo algoritmos e morcegos, enquanto tomavam notas no computador ou no papel. Os 67 estudantes foram imediatamente depois submetidos a testes e depois de uma semana de novo, depois de terem tido a oportunidade de rever suas anotações.

Os que escreveram suas anotações à mão usaram menos palavras, mas pareciam ter pensado mais intensamente sobre o que escreveram e digerido mais completamente o que ouviram, escreveram os pesquisadores na publicação especializada “Psychological Science”. “Todo aquele esforço te ajuda a aprender”, diz Oppenheimer.

Já os que usaram computadores fizeram suas anotações de forma mais mecânica, escrevendo o que ouviram praticamente palavra por palavra.

Quando foram submetidos a um teste, “os que tomaram notas à mão se saíram significativamente melhor do que os que o fizeram no computador apesar do fato de que esses últimos tinham muito mais anotações para consultar”, diz Mueller. “Ter todas essas anotações não os ajudou a refrescar a memória.”

O problema é a tendência dos que digitam de tomar notas literais. “Ironicamente, a própria característica que torna tão atraente tomar notas com os computadores — a capacidade de tomar notas mais rapidamente — foi o que prejudicou o aprendizado”, diz Dr. Kiewra.

Em um experimento, Mueller advertiu explicitamente os estudantes que usavam laptops para evitar tomar notas literais, dizendo que isso poderia prejudicar o desempenho deles depois. Eles não puderam se conter. “A tendência das pessoas de tomar notas textuais em um laptop é difícil de conter”, diz ela.

Esses estudos sobre a forma de fazer anotações foram realizados em condições de laboratório, mas suas descobertas provavelmente se aplicam igualmente sempre que tentarmos coletar nossos pensamentos por via escrita, seja em sala de aula, em uma reunião de negócios ou no consultório de um médico, dizem os especialistas.

É comum estudantes universitários fazerem suas anotações em computadores. Em Princeton, cerca de dois terços dos alunos fazem anotações das aulas em seus laptops, enquanto na UCLA eles são quase 50%.

Os estudos mostram que qualquer anotação é melhor do que nenhuma. Embora as anotações por escrito pareçam ser mais fáceis de lembrar, há espaço para aprimoramento.

Na Universidade de Nebraska, Kiewra conduziu 16 experimentos para avaliar a integridade das anotações escritas à mão e descobriu que as pessoas geralmente anotam apenas cerca de um terço das informações apresentadas. Além disso, na pressa para acompanhar o que vem sendo dito, as pessoas omitem qualificadores importantes, falham em registrar contextos e deixam passar detalhes fundamentais.

Fonte: WSJ
Publicado em: 07/03/2016