fbpx

Sidebar

21
Ter, Maio

Pré-escola online cresce nos Estados Unidos e preocupa especialistas

Notícias EAD

Estudiosos e organizações norte-americanas assinaram declaração contra o financiamento público dos programas virtuais por não valorizarem a prática e o contato no processo de ensino-aprendizagem.

Smartphones, tablets e computadores já fazem parte do dia a dia de boa parte das crianças. Segundo uma pesquisa exclusiva realizada pela CRESCER em 2018, no Brasil, 38% delas já têm algum tipo de aparelho antes de completar 8 anos – sendo que, no passado, só 6% se encaixavam nesse parâmetro. O fenômeno é global e tem dado espaço para uma série de tendências, como as pré-escolas online. Sim, isso existe.

À contragosto dos especialistas, esse formato de educação tem recebido cada vez mais atenção e financiamento nos Estados Unidos. "Programas on-line de pré-escola têm crescido nos últimos anos e milhares de pais já inscreveram seus filhos neles”, afirma o Hechinger Report, portal que é referência na cobertura de educação e inovação global.

Em 2015, a primeira pré-escola online norte-americana foi criada em Utah, desenvolvida pelo instituto sem fins lucrativos Waterford e anunciada como um programa de preparação para o jardim de infância. O projeto, chamado UPSTART, sustenta que as crianças apresentem um crescimento acadêmico com atividades de cerca de 15 minutos por cinco dias da semana, feitas pelo computador.

Dois anos antes, o instituto havia recebido US$ 11,5 milhões do governo federal norte-americano para expandir o programa às crianças da zona rural de Utah. Desde então, o UPSTART já foi usado por 30% das crianças de 4 anos no estado e se espalhou por outros locais como Idaho, Indiana, Carolina do Sul, Ohio e Pensilvânia.

A maioria dos programas existentes no país, por outro lado, são oferecidos por empresas com fins lucrativos que disponibilizam projetos que incluem desde jogos educativos até currículos pré-escolares completos, com caixas de atividades entregues na casa dos estudantes e guias para os pais, de acordo com informações do jornal The Washington Post.

Em outubro de 2018, mais de 100 organizações e especialistas da primeira infância assinaram uma declaração pedindo pelo fim do financiamento público de pré-escolas online. A iniciativa tem a coautoria do projeto Defending the Early Years e da Campanha para uma Infância Livre de Comércio.

"A pré-escola virtual pode economizar dinheiro para os estados, mas às custas de crianças e famílias. O aprendizado precoce não é um produto. É um processo de interações sociais e relacionais que são fundamentais para o desenvolvimento posterior das crianças", diz a declaração. "Afirmando que esse processo pode ocorrer on-line, sem contato humano, implica falsamente que as necessidades das crianças e das famílias podem ser satisfeitas com alternativas baratas baseadas na tela", completa.

Para a professora emérita e especialista em primeira infância da Lesley University in Cambridge, Nancy Carlsson-Paige, os programas pré-escolares online são um penoso substituto para a educação infantil baseada na prática que toda criança merece ter. "Pré-escolas online vão ampliar lacunas de desempenho e aumentar a desigualdade", afirma a professora. "Crianças que tiverem uma experiência baseada na tela estarão em desvantagem comparadas aos seus colegas de comunidades mais ricas que prosperaram em programas focados em atividades que apoiam o seu desenvolvimento cognitivo, social, emocional e físico."

Da educação infantil para a vida
A escola de educação infantil é mais importante que a universidade, acredite! Acha exagero ou está se perguntando o porquê? Essa fase escolar, que atende a crianças de 0 a 6 anos, acontece na primeira infância, um período riquíssimo para o desenvolvimento humano. Cada nova experiência que elas encaram naquele ambiente traz uma série de descobertas diárias. “Como sabemos pela ciência, a arquitetura do cérebro se forma nos primeiros anos de vida. É por isso que o trabalho educacional é extremamente importante e ajuda a definir o futuro desenvolvimento da criança. Na escola, ela ganha habilidades, conhecimento, sensibilidade, valores, capacidade de percepção e de relacionamento”, explica o sociólogo Cesar Callegari, diretor da Faculdade Sesi-SP de Educação.

Por mais que as atividades e os jogos propostos pelos professores pareçam despretensiosos, eles trazem várias lições que são levadas por toda a vida. Provas científicas para comprovar tudo isso não faltam, como um estudo recente realizado com 1 milhão de crianças no estado da Carolina do Norte (EUA). Segundo a pesquisa, alunos que tiveram uma boa educação infantil precisam de menos reforço escolar e apresentam melhor desempenho no ensino fundamental. Em Harvard (EUA), cientistas já apontaram que, quanto mais a criança se desenvolve na escola nessa fase da vida, maiores são as chances de chegar ao ensino superior e ganhar bons salários quando adulta. Se desenvolver bem na educação infantil, porém, não é sinônimo de utilizar apostilas, fazer provas e ter infindáveis deveres de casa. Muito pelo contrário: o aluno deve brincar e se relacionar para aprender.

Fonte: Revista Crescer