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02
Qui, Maio

Educação 360 STEAM discute tecnologia e interdisciplinaridade

Notícias EAD

Físico alemão Stefan Klein abriu evento com obras do renascentista Leonardo da Vinci; Hugo Aguilaniu, diretor do Instituto Serrapilheira, defendeu o risco na pesquisa científica.

RIO — O físico e escritor alemão Stefan Klein abriu na manhã desta terça-feira o Educação 360 STEAM, no Museu do Amanhã, passeando pelas obras do cientista e artista renascentista Leonardo da Vinci para reforçar a importância da interdisciplinaridade. O mote do evento, com painéis, estudos de caso e workshops, é justamente a integração de cinco disciplinas: Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, que em inglês formam a sigla STEAM. O encontro é uma realização dos jornais O GLOBO e EXTRA, com patrocínio do Colégio pH e da Fundação Telefônica Vivo, e o apoio institucional da Revista Galileu, do site Techtudo, TV Globo, Canal Futura, Unicef e Unesco.

Para Klein, Da Vinci é o maior exemplo do que um ser humano pode aprender a partir da sua própria curiosidade, de um espírito que não aceita os limites impostos:

— Estamos acostumados a dividir conhecimento em disciplinas e procurar lógica em cada uma delas. Isso não faria sentido para Leonardo, porque ele buscaria exatamente a relação entre elas — afirmou Klein, reforçando a importância do professor. — Gênios não nascem gênios, eles são criados. Leonardo é fruto da educação do seu professor Andrea del Verrocchio.

Klein especulou que, se Da Vinci vivesse hoje, nos tempos da internet, seria designer de games ou trabalharia com realidade virtual, porque seu maior interesse era criar coisas novas. Para o físico, a “Monalisa” é o quadro mais famoso e estudado da história exatamente porque o espectador não consegue decifrá-lo:

— Leonardo não transpõe a realidade para a imagem, ele cria a própria realidade. Você não tenta entender a Monalisa pela sua expressão física, você busca descobrir o que ela estava pensando.

Questionado sobre os governos que pretendem concentrar o ensino nas áreas de exatas, tirar tempo de aulas das disciplinas de ciências humanas e que também duvidam de informações científicas, Klein foi taxativo:

— Um pensamento científico é um pensamento crítico. E não é bem isso que um governo populista quer.

Rafaela Lima, professora do canal Mais Ciências Foto: Agência O Globo
Rafaela Lima, professora do canal Mais Ciências Foto: Agência O Globo
No segundo painel do dia, os professores youtubers Ivys Urquiza, Rafaela Lima e Tatiana Rezende reforçaram a importância da tecnologia no ensino.

— Às vezes, durante um dia inteiro, só o que eu tenho de material para ensinar é um quadro e uma caneta. E fico pensando em como ter uma tela ajudaria o processo de aprendizado dos alunos. Em vez apenas falar sobre uma célula, eu poderia mostrar de fato como ela é — disse a professora de ciências Rafaela, cujo canal Mais Ciências tem mais de cem mil inscritos.

Professor do canal Física Total, com mais de 430 mil inscritos, Urquiza ressaltou que, segundo informações do YouTube Edu, projeto do YouTube voltado para educação, nove entre dez usuários frequentes já usaram a plataforma para aprender, desde uma disciplina escolar até como fazer um bolo ou trocar a resistência de um chuveiro. Para ele, as invenções tecnológicas não vão substituir os professores, mas os que tiverem mais afinidades com esses aparatos terão vantagens dentro do mercado de trabalho:

— Lembra de quando a gente precisava procurar livro por livro nas bibliotecas? Vocês trocariam a possibilidade de pesquisar online em um clique por voltar àqueles tempos? A tecnologia é uma realidade e nós, professores que nascemos num mundo sem internet, já aprendemos muito até aqui. A tecnologia é benéfica. Não é um esforço extra, é o caminho para o futuro.

Os três não acreditam que as aulas online acabarão com o contato em sala de aula, mas podem democratizar o acesso à educação. A internet é hoje importante em diversos setores e não só no ensino básico, como mostrou Hugo Aguilaniu, diretor do Instituto Serrapilheira, fundação privada de apoio à pesquisa e divulgação científica, criada em 2017. Além de financiar projetos, o Serrapilheira reúne matérias jornalísticas e vídeos para serem divulgados nas mídias do instituto e no evento anual para promover trabalhos de divulgação científica.

O Serrapilheira recebe entre mil e dois mil projetos por ano, frequentemente de jovens pesquisadores, que são avaliados por cientistas do mundo todo, de forma anônima. Segundo Aguilaniu, bolsas e editais públicos são em geral aplicados em investigações mais seguras, que não tenham tanto risco de não apresentarem resultados. O Serrapilheira permite um tipo de pesquisa que não espera um retorno específico, por isso pode arriscar mais.

— Nós procuramos pesquisadores brasileiros que tenham uma grande pergunta, uma pergunta difícil. Investimentos em pesquisas que não sabemos aonde o pesquisador vai chegar. Ele tem hipóteses, ideias que possam mudar o campo científico — afirmou Aguilaniu. — Aceitamos, por sermos privados, que uma parte dos projetos que investimos não vai dar nada. Risco alto, jogo alto.

Em 2019, 24 projetos foram contemplados para um investimento inicial de R$ 100 mil do Serrapilheira. Depois de um ano, três serão selecionadas para um investimento de até R$ 1 milhão, ao longo de três anos. Dependendo do encaminhamento da pesquisa, este contrato pode ser renovado anualmente, com R$ 333 mil por ano.

Aguilaniu enfatizou a importância da diversificação de investimentos, já que a ciência também é afetada por ideologias e convicções de quem pesquisa.

— Nós não podemos deixar o CNPq morrer. O investimento público é essencial para se fazer uma pesquisa científica de ponta. Ciência gera economia, produtos. Mas também faz parte da nossa cultura da mesma forma que a literatura e as artes — pontuou. ]

* Estagiária, sob supervisão de Eduardo Graça

Fonte: O Globo