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Sex, Maio

Educação a distância em tempos de pandemia; veja relato de estudantes e professores do DF

Notícias EAD

Suspensão das aulas até 31 de maio alterou rotina de quase 600 mil estudantes do ensino fundamental ao médio. Educadores também precisaram se adaptar.

Suspensão das aulas até 31 de maio alterou rotina de quase 600 mil estudantes do ensino fundamental ao médio. Educadores também precisaram se adaptar.

Após a suspensão das aulas até 31 de maio no Distrito Federal, como medida de combate à Covid-19, estudantes, pais e professores tiveram que adaptar a rotina de aprendizado ao isolamento social. Apenas entre o ensino fundamental e médio, a medida afetou quase 480 mil alunos da rede pública e mais de 170 mil da rede privada, segundo dados da Secretaria de Educação.

O G1 conversou com pais, alunos e professores envolvidos na tarefa de adotar uma nova rotina. A maioria defende as aulas a distância como forma de garantir, em parte, "a normalidade" nesses tempos de pandemia.

Para a psicopedagoga Andrea Vani de França, o ensino a distância é importante para manter, pelo menos, parte da rotina, bem como estimular e ativar as funções cerebrais que auxiliam no aprendizado.

A médica Fabiana Mendes reforça a tese. A pediatra esclarece ainda que, dentro da rotina, é possível definir momentos para as principais atividades que estão na vida criança e do jovem, como o estudo.

"A palavra de ordem é rotina, essa tem que ser a palavra que guia todas as outras."
Segundo Fabiana, "na rotina, a gente vai colocando os cabides". Ela lista esses cabides como o da alimentação, o cabide do sono, da atividade física, da atividade escolar e das brincadeiras, por exemplo – cada qual com seu espaço.

A empreendedora Dayse Bessa, de 35 anos, é mãe de duas crianças, uma de 11 anos e outra de dois meses de idade. Ela também cuida da afilhada, de oito anos, porque a mãe da menina trabalha na área da saúde e a criança faz parte do grupo de risco.

Todos estudam em escola particular e continuam tendo aulas, porém, pela internet. O horário de estudo é das 13h às 18h, com intervalo para o lanche.

"Eu coloco eles pra estudar todos os dias, no mesmo horário. E ainda mando colocarem o uniforme pra coisa ficar mais séria e funcionar."
Para Eudenice Menezes da Silva, mãe de um adolescente de 13 anos, o importante é que o filho não perca o foco nos estudos. O menino frequenta a rede pública e ela acompanha a resolução dos exercícios passados pelos professores por meio de um grupo.

Eudenice afirma que está conseguindo dar conta. "O importante é ele não ficar sem conteúdo", afirma.

"É importante pra que ele não perca o foco, pra manter a saúde mental e manter a rotina o máximo possível [...] sem que perca o ritmo escolar e o costume de estudar."

Para os alunos, foco no objetivo
A estudante Maria Eugênia Rodrigues, de 18 anos, tem usado o isolamento social para estudar conteúdos acumulados. Ela sonha cursar medicina.

Quando não está assistindo as aulas online do cursinho, a jovem foca no aprofundamento de conteúdos, exercícios e resumos. Ela conta que estuda 10h por dia e, para driblar a ansiedade, pensa no próprio objetivo.

"Eu tento sempre andar motivada, principalmente motivação pessoal, uma motivação interna que é justamente pensar nos meus sonhos, no meu objetivo que é passar em medicina."

Maria Eugênia não está sozinha. O sonho de entrar em um colégio militar guia os estudos de Gabriel de Moraes, de 10 anos.

Ele é aluno da Escola Classe 308 Sul. Há um ano, Gabriel faz reforço em matemática e português para alcançar a vaga.

Antes, as aulas de reforço era presenciais. Porém, com a quarentena, passaram a ser virtuais.

"De manhã eu acordo, tomo café, escovo os dentes me preparo e jogo um pouquinho. Depois, almoço e já me preparo ligando o computador pra esperar o professor."
Para os professores, uma experiência desafiadora

Para os professores, o modelo de ensino não presencial adotado durante a pandemia também é novo.

"A experiência está sendo desafiadora. Tem hora que dá vontade de desistir, mas a gente não pode desistir né? "
O desabafo é da professora Patrícia Passos. Ela dá aula de matemática para o 9ª ano do ensino fundamental e para estudantes dos três anos do ensino médio.

O desafio, diz Patrícia, é lecionar – ao vivo – pela internet. Para ajudar na dinâmica da aula, a professora comprou um quadro branco que usa como apoio.

Patrícia entende que a experiência também é desafiadora para os estudantes "principalmente porque eles precisam ter disciplina para assistir o conteúdo, fazer as tarefas e depois corrigir". Ela conta que todos estão vivendo um processo de adaptação.

A escola onde a professora trabalha, em um primeiro momento, havia colocado apenas os vídeos das aulas para os alunos assistirem. "Só que não estava dando certo", diz ela.

"A gente precisa ter essa interação aluno e professor. Em uma semana, a gente mudou o perfil da nossa aula."
Diferença entre o ensino não presencial, no isolamento, e o EAD

"Essa experiência que a gente está tendo, remota, é completamente diferente da experiência EAD", afirma o doutor em comunicação, Alexandre Kieling. Ele explica que a educação a distância, conhecida como EAD, tem uma metodologia bem programada desde o princípio.

"O aluno acessa o conteúdo e depois faz as tarefas no tempo que está previsto e, eventualmente, há salas virtuais para esclarecimento de dúvidas e fóruns para tratar alguns conceitos que são mais complexos", explica ao definir o ensino a distância.

"No entanto, quando você tem uma programação de aulas presenciais – e essas aulas passam a ser remotas – a metodologia tem que ser toda alterada."
Kieling exemplifica com o próprio trabalho. "No meu caso, estou envolvido em três níveis de ensino diferentes: graduação, pós-graduação (curso de especialização) e curso de mestrado. São abordagens diferentes de conteúdo, são estudantes diferentes e você precisa desenvolver dinâmicas diferentes para cada um dos níveis”, conta.

Essa mudança também foi sentida pela professora universitária Fabiana Coelho do Nascimento. "Eu sou professora presencial e de EAD, mas aquele ensino a distância no qual a gente só dá o suporte através dos conteúdos e de alguns vídeos gravados, não é uma assistência online como é agora, então é tudo novo", aponta.

Para esse novo modelo de ensino, Fabiana comprou um quadro branco e usa dois computadores.

"Uso o quadro branco para explanar alguma ideia ou detalhar de forma mais minuciosa, desenhar para o aluno entender melhor, porque quando a gente está em contato presencial, ali é uma relação e uma comunicação mais estreita."

Além de professora, Fabiana também tem outro emprego, no qual está em home office. Ela ainda cuida de um filho especial, que faz parte do grupo de risco da Covid-19.

Fabiana conta que não sai de casa desde o início do isolamento social no DF. Para comprar alimentos – ou utensílios, como o quadro branco que passou a usar nas aulas – ela usa a internet.

"Eu, como professora, mãe e dona de casa tenho me reinventado", conclui.

Fonte: G1 Globo