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Sáb, Maio

Formação de professores como projeto de nação: o profissionalismo no centro

Notícias EAD

A formação desses profissionais não pode apenas considerar as dimensões “técnicas” do desenvolvimento de saberes e práticas, mas também ser pautada por princípios éticos e de compromisso com a promoção da equidade e a superação das desigualdades

A formação desses profissionais não pode apenas considerar as dimensões “técnicas” do desenvolvimento de saberes e práticas, mas também ser pautada por princípios éticos e de compromisso com a promoção da equidade e a superação das desigualdades

Embora os professores sejam as peças-chave para a promoção de uma educação de qualidade, a discussão sobre sua formação tem pouco espaço no debate público. Uma conversa fundamental para o futuro da educação brasileira está em curso e, muito provavelmente, a imensa maioria dos brasileiros sequer ouviu falar dela. O CNE (Conselho Nacional de Educação) está discutindo o redesenho das DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais) para a formação de professores, após suspensão da proposta feita em 2019, que recebeu inúmeras críticas da comunidade acadêmica.

Embora pouco conhecidos do público amplo, as DCN estão entre os documentos mais fundamentais da educação brasileira. Ao estabelecer os balizadores da formação de professores no âmbito das licenciaturas, elas não apenas guiam as universidades na construção de seus currículos formativos, mas também explicitam a visão de profissionalismo que temos dos professores.

Quando falamos em profissionalismo docente, estamos nos referindo à clareza quanto àquilo que diferencia os professores de outros profissionais. Em outras palavras: o que um professor de matemática sabe e é capaz de fazer que um engenheiro não sabe? Em uma visão superficial da docência, acredita-se que basta possuir um amplo repertório de saberes para “passá-los” aos estudantes (aquilo que Paulo Freire denominava “educação bancária”). Uma visão que considera a complexidade da docência, contudo, identifica que no ato de ensinar estão contidas múltiplas variáveis com as quais os professores precisam lidar.

Conforme Margareth Lampert aponta, é fundamental evidentemente que o professor possua profundo conhecimento disciplinar. Contudo, a complexidade da docência requer mais do que isso. A sala de aula é um ambiente não rotineiro, e o professor precisa ter a capacidade de navegar as incertezas e surpresas que cada turma apresenta. Os objetivos do ensino, por sua vez, não são apenas a apropriação do currículo: na sala de aula, desenvolvemos aspectos sociais, emocionais, identitários e cívicos de nossos estudantes.

A escola é um ambiente diverso, e o professor precisa estar muito preparado para conhecer seus estudantes de múltiplos pontos de vista: cognitivo, biopsicossocial, cultural, religioso, econômico, linguístico, para citar apenas alguns fatores. Além disso, ao mediar os processos de aprendizagem, é necessário mobilizar múltiplos saberes simultaneamente: além do conteúdo sendo estudado, um professor precisa mobilizar quais são as melhores estratégias para ensiná-lo, quem são aqueles alunos específicos, como modular seu discurso para a audiência, quais exemplos pode utilizar para assegurar o entendimento.

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Diante de uma atuação complexa e que requer múltiplos saberes, é necessária uma formação robusta. É necessário, antes de tudo, considerar que o professor precisa construir conhecimentos que articulem o saber disciplinar ao ensino. Aprender matemática para ser um estatístico e para ser um professor é completamente diferente. Assim, os cursos de licenciatura precisam contemplar o desenvolvimento daquilo que Shulman denominou “conhecimento pedagógico do conteúdo”, além dos conhecimentos pedagógicos estruturantes.

Também é preciso compreender que a profissão docente requer mais do que o saber teórico: é fundamental que o professor aprenda como colocar esses conhecimentos em ação, por meio da organização de experiências de aprendizagem apropriadas aos seus estudantes específicos. O currículo das licenciaturas precisa, portanto, contemplar vivências que permitam aos professores desenvolverem as competências necessárias para estarem na sala de aula. Não se aprende a mediar trabalhos em grupo, implementar metodologias ativas de aprendizagem ou engajar os estudantes apenas por meio de aulas expositivas, ou assistindo a vídeos e lendo textos. É fundamental que as aulas das licenciaturas sejam, elas próprias, experiências educativas, por meio daquilo que chamamos de modelização ou homologia de processos.

Por fim, é preciso considerar que estamos formando professores para ensinar crianças reais e diversas, em um mundo em constante transformação. A formação desses profissionais não pode apenas considerar as dimensões “técnicas” do desenvolvimento de saberes e práticas, mas também ser pautada por princípios éticos e de compromisso com a promoção da equidade e a superação das desigualdades.

Formar este profissional é um ato de extrema complexidade. São necessários docentes universitários extremamente preparados, múltiplas oportunidades de praticar a docência durante a formação, e experiências de aprendizagem significativas e formativas. Não se ensina a mediar experiências complexas na tela de um computador, assistindo vídeos e lendo conteúdos resumidos, tal como programas à distância e de baixíssimo custo oferecem. Formar professores de qualidade é custoso, leva tempo, mas é essencial para promover uma educação de qualidade.

Nesse sentido, o momento de reflexão sobre a DCN de formação docente é estruturante. É nesse documento que vamos, enquanto país, definir qual professor queremos em nossas salas de aula, qual visão de profissional possuímos, e o quanto valorizamos efetivamente a qualidade dos professores. É fundamental que a nova diretriz seja clara quanto à visão de docência e de profissional docente que desejamos, e também firme quanto ao tipo de formação necessária para prepararmos esses profissionais. É preciso coragem para avançar no fortalecimento da docência e para enfrentar as batalhas contra a precarização do ensino, e aberto para envolver a comunidade acadêmica nesta construção.

O futuro da educação passa, antes de qualquer coisa, pela formação dos professores. O futuro da formação de professores está nas mãos do CNE. Que possamos ver nesse futuro a figura de um profissional preparado para construir uma educação de qualidade para todos, um professor que seja parte de nosso projeto de nação.

Fonte: pp.nexojornal

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