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09
Qui, Maio

Evasão na EAD

Notícias EAD

Nove meses atrás resolvi ir além das palavras quanto ao treinamento via Web. Resolvi experimentar a coisa concretamente. Inscrevi-me num curso online sobre investimentos. Aprendi alguma coisa sobre a matéria. Aprendi também até que ponto o E-learning combina com minha vida.

CONFISSÕES DE UMA E-EVADIDA

Alisson Rossett
SDSU

Em qualquer lugar, a qualquer momento vira “agora não, talvez mais tarde”.

3 de dezembro: Duas cartas de boas vindas chegaram logo depois que paguei os quarenta e nove dólares de matrícula. As aulas começam daqui uma semana.

10 de dezembro: São seis da manhã aqui na Costa Oeste. Daqui a três horas minha senha vai ser ativada e poderei começar o curso. Por que será que memorizei tão bem essa senha e nome de código, se habitualmente esqueço nomes e números importantes? Isso parece indicar que estou motivada.

11 de dezembro: Não posso acreditar: esqueci-me da aula! No segundo dia do meu curso sobre investimentos já estou ficando para trás.

12 de dezembro: Gastei cerca de noventa minutos fazendo a lição 1. Estou sorrindo porque alcancei noventa por cento de acertos no meu primeiro teste. As questões não eram tão substanciais como o conteúdo dos materiais de ensino. Estamos interessados em qualquer coisa que nos torne capazes de tomar boas decisões sobre investimentos. O teste deveria refletir isso, com mais casos e cenários que exigissem a aplicação dos novos conceitos.

Tem muita coisa boa aqui. O texto é atraente, elegante. Isso é muito importante porque a “rolagem de texto” (scrolling) só é interrompida por exercícios ocasionais. A interface é amigável, com gráficos simples e efetivos. As boas vindas do meu professor, via web-vídeo, foi algo bem envolvente. Há muitas opções de aprendizagem e estudo, incluindo chats, acesso a artigos publicados, links para outros sites e uma livraria online.

O exercício no final da primeira unidade me faz pensar sobre o que preciso saber de memória e o que preciso registrar em notas para futuras referências. Este curso não está me ensinando a produzir anotações úteis (job aids) ou outros materiais para uso posterior.

14 de dezembro: Estou pronta para o segundo módulo. É sobre ações. Será que devo memorizar o fato de que as ações são garantidas por ativos tangíveis, e as debêntures não? Se o vocabulário é crítico, devo ser exercitada de modo mais intensivo. Se ele for apenas algo do tipo PSI (Para Sua Informação), precisamos saber disso. Estou no módulo 2 há vinte minutos quando o telefone toca. A segunda unidade vai ter de ficar para mais tarde.

18 de dezembro: Lá se foram quatro dias, e eu acho que vou ter de voltar para trás, para o começo da unidade. Mas não posso fazer isso agora. Tenho visitas.

24 de dezembro: Lá se foram mais seis dias, mas estou de volta. Revi as primeiras lições e estou plugada no curso de novo. Achei facilmente meu caminho até o ponto em que eu havia parado. Gosto do texto, de prosa limpa e clara. Mas eu quero mais exemplos e exercícios práticos que desafiem o meu pensar. Há uma tendência (neste curso) de enfatizar mais cálculos que de nos pressionar para trabalharmos com as implicações de tópicos mais ardilhosos como ações preferenciais, preço das ações e taxas de juros.

28 de dezembro: Meu desempenho despencou para sessenta por cento. Naturalmente tenho lá minhas restrições quanto à qualidade dos testes. No meio do módulo, me fizeram uma boa pergunta: Devo ter um conselheiro de investimentos ou devo participar do jogo por conta própria? Não sei se eles fizeram um levantamento sistemático de necessidades, mas posso ver que os planejadores do curso tentaram antecipar nossas necessidades e prioridades.

09 de janeiro: Chegamos a um novo século. E meus compromissos com o curso passaram batidos. Foram agendados alguns poucos chats síncromos, mas sempre para ocasiões em que estou ocupada com outras coisas. Estou perdendo o tesão, e essa circunstância me faz sentir culpada. Daqui a pouco estarei voando para a Costa Leste. Vou ver se me plugo no curso desde meu apartamento no hotel.

28 de janeiro: Não deu tempo de embarcar em qualquer aprendizagem online durante minha viagem. A oportunidade está escapando entre os dedos, e eu não estou achando um tempo para voltar às aulas. O coordenador do curso ou o professor não diz nada sobre o meu sumiço. É agora ou nunca. Minha senha vai passar desta para melhor dia 3 próximo.

5 de fevereiro: Estive tentando curar-me de um resfriado bravo e às voltas com um prazo fatal. Terminei três dos seis módulos. Sou uma E-evadida.

Como é que isso aconteceu comigo? Eu gostaria de criticar o curso e culpá-lo pela minha desistência. Mas não posso. As coisas que me tornaram uma evadida são as mesmas que fazem o espaço Web ser tão atraente. A beleza do “em qualquer lugar, em qualquer momento, quando você quiser” vira, muito depressa, “agora não, talvez mais tarde”, e muitas vezes, “de jeito nenhum”. Como não conta com um instrutor dinâmico, incentivos poderosos, ligações com o trabalho e agendas fixas, a aprendizagem no espaço Web perde pontos na conquista e manutenção da atenção. No conforto da minha casa, perto do computador, do telefone, dos meus gatos e dos meus amigos, foi muito fácil fazer tudo, exceto meu curso na Web.

Sim, todo mundo pode aprender na Web. Minha experiência, porém, me faz perguntar quantos chegarão ao fim.

Tradução: Jarbas Novelino Barato, setembro/2001.

Publicado sob o título de Confessions of an E-Dropout em Training Magazine, agosto, 2000