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05
Dom, Maio

De maioria a raridade: trajetória das mulheres nos cursos de informática

Notícias EAD

Estereótipos reforçados desde a infância são apontados como uma das causas da perda do número de vagas na universidade e no mercado de trabalho.

Você já ouvir falar em Ada Lovelace, Mary Kenneth Keller, Grace Hopper, Dana Ulery, Hedy Lamarr e Kathleen Antonelli? Por outro lado, aposto que já ouviu nomes como Steve Jobs, Bill Gates e Mark Zuckerberg. Correto?

Mas por que o nome dessas mulheres foi citado ao lado de grandes homens da tecnologia? Assim como eles, elas também dedicaram a vida ao universo dos computadores. O que os diferencia é a invisibilidade delas e a fama global deles, embora todos tenham dado grandes contribuições à informática. Além disso, elas foram pioneiras, em uma área com cada vez menos representantes do sexo feminino.

Isso pode parecer meio estranho hoje em dia, mas de fato já existiu uma época em que as mulheres eram maioria nesse setor. Nos seus primórdios, essas máquinas eram usadas basicamente para realizar cálculos e processamento de dados, atividades à época associadas à função de secretária. Por tanto, elas eram utilizadas apenas por mulheres.

Mas engana-se quem pensa que elas se limitaram a isso. Muitas tiveram papel importante no desenvolvimento dos computadores e dos programas, que fazem essas máquinas ter serventia.

Ada Lovelace, filha do famoso poeta inglês Lorde Byron, por exemplo, desenvolveu o primeiro algoritmo da história, e Mary Kenneth Keller, uma freira americana, teve papel importante na criação da linguagem de programação BASIC.

Já Grace Hopper criou a linguagem de programação Flow-Matic, hoje extinta, mas que serviu como base para o desenvolvimento de outra linguagem, a COBOL."Já Dana Ulery foi a primeira mulher engenheira da Nasa e desenvolveu algoritmos para a automatização dos sistemas Deep Space Network, de rastreamento de tempo real da agência espacial americana", conta a professora Andreia Malucelli, coordenadora da pós-graduação em Informática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Presença feminina tem relação com a matemática

Mas a contribuição das mulheres para computação não acaba aí. Outra mulher de representatividade na tecnologia foi Kathleen Antonelli, que junto à Jean Jennings Bartik, Frances Snyder Holberton, Marlyn Wescoff Meltzer, Frances Bilas Spence e Ruth Lichterman Teitelbaum programou o ENIAC, o primeiro computador eletrônico digital de propósito geral da história.

Segundo Malucelli, do início da década de 1970 até meados de 1980 houve um aumento de 10% para 36% da participação das mulheres entre os profissionais de computação, e a maioria dos estudantes era do sexo feminino.

Para ela, esse interesse das mulheres pela graduação nessa área tenha relação com o curso de Matemática", diz. "A primeira turma surgiu a partir da migração de alunos da licenciatura em Matemática, que sempre foi um curso predominantemente feminino."

No entanto, a partir de meados dos anos 1980, as mulheres começaram a dar lugar aos homens na informática. Dados demonstram essa inversão paulatina, principalmente nos cursos superiores de processamento de dados e ciência da computação.

Houve uma época em que o número de homens e mulheres se equilibraram. "Depois, entre 1990 e 2000, a proporção de gêneros se equilibrou e a partir de 2000 a quantidade delas foi caindo ano a ano", diz Simone Souza, do Departamento de Sistemas de Computação e presidente da Comissão de Graduação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP São Carlos (ICMC-USP).

Um levantamento sobre o curso de Ciências de Computação do ICMC, que tinha 40 vagas até 2003 e, desde então, 100 vagas, aponta que, em 1997, se diplomaram 12 mulheres (48%) e 13 homens (52%), números que haviam caído, em 2003, para 4 (12%) e 27 (88%), respectivamente.

Já em 2016 foi registrado o menor número de mulheres que concluíram o curso: apenas duas (3%) ante 52 (97%) homens. Em 2017, elas chegaram a 12 (17%) dos 70 formandos.

A queda nos números também aparece no Instituto de Matemática e Estatística (IME), também da USP, em São Paulo. A primeira turma de Ciências da Computação, formada em 1974, tinha um total de 20 alunos, dos 14 mulheres (70%) e 6 homens (30%). Em 2016, a turma contava com 41 alunos, dos quais apenas seis eram mulheres, ou seja, 15%.

Força de trabalho

De acordo com dados recentes divulgados por Facebook, Google, Twitter e Apple, as mulheres são apenas 30% dos funcionários nessas empresas, afirma Malucelli, da PUC-PR. "Em cargos técnicos, diretamente ligados à tecnologia, esse número diminui. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, elas representam apenas 20% dos mais de 580 mil profissionais da área de tecnologia da informação."

Nas universidades essa realidade não é diferente. De acordo com a coordenadora, no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep, ligado ao Ministério da Educação), as mulheres representam 15% dos matriculados em cursos de tecnologia.

Ainda de acordo com ela, um gráfico, publicado pelo The Statistics Portal, que reúne estudos e estatísticas de mais de 22.500 fontes, baseado em relatórios de diversas empresas de TI, indica que as mulheres representam entre 26% (Microsoft) e 43% (Netflix) da força de trabalho nas principais empresas da área.

"Além disso, o estudo Women in Tech 2018, publicado pelo portal americano HackerRank, mostra que dos 14.616 desenvolvedores de software que responderam à pesquisa, pouco mais de 10% eram do sexo feminino", acrescenta Malucelli.

Estereótipos reforçados desde a infância

Os motivos para esse afastamento são alvos de pesquisas e discussões ao longo dos anos e estão fortemente relacionados com estereótipos. A coordenadora acredita que muito se deve após o 1984, quando foram lançados os primeiros computadores com materiais de divulgação voltados para o público masculino, o que pode ter ocasionado um desinteresse das mulheres.

Simone Souza levanta outra possível causa. "Quando surgiram, os computadores pessoais foram primordialmente utilizados pelos meninos, voltados para os jogos", explica. Para ela,
as meninas nessa época não eram incentivadas a interagir com essas máquinas e, por isso, começaram a se afastar de áreas relacionadas à computação.

"Outra razão que acredito ser importante para a baixa procura pelos cursos de informática pelas meninas é o pouco incentivo que é dado a elas para a área de exatas nos ensinos fundamental e médio", acrescenta.

A pesquisadora Eliane Pozzebon, coordenadora do curso de Engenharia da Computação da Universidade Federal de Santa Catarina, acredita que o afastamento do sexo feminino dessa área não é exclusivo de um período.

"Há também a questão cultural", diz. "Desde a nossa infância, os pais preferem bonecas para as meninas e videogames para os meninos. A figura do nerd sempre esteve associada ao menino."

Fonte: SIMI.Org