Com a dificuldade de matricular novos alunos, várias faculdades estão cobrando R$ 49, ou valores tão irrisórios quanto este, nas primeiras mensalidades de cursos de graduação presencial. Algumas instituições de ensino chegam a abrir mão das parcelas iniciais para atrair os calouros. O valor de R$ 49 representa 6% do preço médio das mensalidades de graduações presenciais no país, de acordo com dados da consultoria Hoper Educação.
Neste cenário de concorrência acirrada, a Estácio, segundo maior grupo de ensino superior privado brasileiro, começou a oferecer um parcelamento de até três mensalidades para os novos alunos da graduação presencial e on-line. O calouro paga R$ 49 nos meses iniciais, e a diferença para o preço cheio da mensalidade é parcelado durante os quatro anos do curso. No vestibular do início de 2018, 90% dos ingressantes na instituição se matricularam nesse modelo. Ainda assim, o volume de calouros da graduação presencial da Estácio caiu 7,6%.
Questionado sobre os riscos de evasão quando o estudante começar a pagar o preço cheio, Pedro Thompson, presidente da Estácio, argumentou que no ano passado a companhia cobrou R$ 59 na primeira mensalidade dos calouros e não houve aumento na desistência. A taxa de evasão da Estácio caiu 26% no primeiro trimestre deste ano quando comparada a igual período de 2017.
"Ano passado, vimos muitas instituições cobrando R$ 59 e algumas dando isenções nas primeiras mensalidades. Agora, o valor está em R$ 49. Nosso programa é um caminho para mitigar isso, com a diferença que vamos receber as mensalidades", disse Thompson. A companhia vai provisionar 15% das mensalidades parceladas, considerando que esse é, segundo o executivo, o percentual de alunos que desiste da graduação no primeiro ano.
A guerra de preços é acirrada principalmente no término do processo de captação de calouros, entre o fim de março e abril. Nesse período, a Ser Educacional está cobrando R$ 49,90 nas primeiros mensalidades em cursos e unidades específicas. Mesmo assim, o número de novos alunos da Ser caiu 13%. A Anhanguera, que pertence ao grupo Kroton, e a Unip cobraram cerca de R$ 60 no primeiro mês. A expectativa é que a concorrência continue no próximo vestibular. A FAM (Faculdade das Américas) oferece isenção na primeira mensalidade e a Uninove dará desconto de 50% na matrícula.
O mercado financeiro e especialistas do setor de ensino reprovam a guerra de preços, que joga a rentabilidade para baixo. As ações da Estácio encerraram o dia ontem com queda de 5,74% na B3, o maior recuo do Ibovespa. "Parece que as IES [instituições de ensino] estão mais preocupadas com preço e menos com valor. É uma estratégia de marketing equivocada, pode parecer que é propaganda enganosa. As pessoas fazem sacrifício quando têm a percepção de que o curso oferecerá oportunidade para sua vida", disse Carlos Monteiro, consultor da CM Educação.
Essa disputa, com mensalidades na casa dos R$ 50, já vem ocorrendo no ensino a distância, devido à grande quantidade de polos liberada nos últimos anos. "Essa política de descontos no presencial começou este ano. Antes, até havia ações pontuais ou em pequenas faculdades. Chama a atenção agora por ser o segundo maior grupo do país, a Estácio, com essa estratégia", disse William Klein, presidente da Hoper.
Fonte: Valor
