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Seg, Abr

Conheça brasileiros que se formaram pelo ensino a distância e hoje pesquisam até tratamentos para o câncer

Notícias EAD

Quase dois milhões estão matriculados nessa modalidade no Brasil, da educação básica ao ensino superior.

Gilberto dos Santos, de 34 anos, nasceu e cresceu em Nova Iguaçu sonhando estudar Geografia ou Ciências Sociais. A oportunidade que a vida lhe deu, no entanto, foi um curso técnico de Administração que o empregou rapidamente. Por isso, deixou o sonho da faculdade no futuro. Quando conseguiu, entrou para o curso superior de Administração, pensando que esse seria o caminho natural. Mas não se encontrou. Até que decidiu ir em busca daquela que sempre percebeu como sua vocação: a área de Humanas.

Com as novas oportunidades que a graduação lhe trouxe, Santos tornou-se mestrando em História Econômica na USP. Ele faz parte de um contingente de brasileiros que, por morar longe dos grandes centros ou não ter tempo de estar presencialmente em uma instituição de ensino, optam pelo ensino a distância. Em 2017, de acordo com o Censo Escolar e o Censo da Educação Superior, havia 1.738.858 estudantes matriculados nesta modalidade entre o ensino fundamental e a graduação, o que representa 3% do total . São 18%, considerando-se apenas a graduação.

— Os cursos de ensino a distância têm a missão de democratizar a educação e melhorar a formação do professor onde a universidade não chega — afirma o professor Carlos Eduardo Bielschowsky, presidente do Consórcio Cederj e da Fundação Cecierj, ambos da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social.

Além disso, explica Bielschowsky, desempenham um papel importante no desenvolvimento econômico e social do estado como um todo. Uma vez que oferecem cursos de Engenharia, Administração, Informática, entre outros, contribuem para reverter o fluxo perverso da população do interior para os grandes centros urbanos.

Chegada ao doutorado

A vida de Marina Barreto Silva, de 52 anos, sempre foi caçar caranguejos em Gargaú, distrito de São Francisco de Itabapoana (RJ) — a cerca de seis horas da capital do estado. Esse seria o seu destino para a vida toda se sua filha caçula não tivesse enfrentado problemas de aprendizado quando ainda estava no ensino fundamental. Em visita à escola da menina, Dona Marina, como é chamada, foi convencida por um professor a voltar às salas de aula e completar o ensino médio. Aos 36 anos, pegou gosto pelo estudo e não parou mais. Fez o curso de Biologia a distância e, hoje, é aluna de doutorado em Biotecnologia da Universidade do Estado do Norte Fluminense (Uenf), onde pesquisa um novo tratamento de câncer que seja menos agressivo ao paciente.

— Eu nem ousava sonhar com a vida que tenho hoje. De repente me vi dentro de um laboratório, pude perceber que essa é minha paixão — conta Marina.

Três de suas filhas também seguiram pelos estudos em Biologia a distância. A caçula, que resolveu lá atrás os seus problemas de aprendizagem, está completando o curso agora. A doutoranda conta que o método mudou desde o seu tempo de faculdade. Na época, ela pegava as apostilas em um dos polos e estudava em casa. Agora, quase tudo acontece em ambiente virtual.

Uma pesquisa realizada no início do ano passado pela Universidade Aberta do Brasil, programa do governo federal que articula e fomenta cursos a distância no país, indica que a participação em fóruns e chats é o recurso pedagógico mais utilizado nos cursos.

— É importante estimular o aluno de ensino a distância a atividades que despertem seu interesse, ainda mais se estas forem coletivas, o que aumenta o sentimento de pertencimento à sua comunidade — afirma Bielschowsky.

João Vianney, ex-coordenador do Laboratório de Ensino a Distância da UFSC e consultor educacional da Hopper, diz que a utilização dos fóruns tem mudado nos últimos anos. Os fóruns avaliativos, que valem nota, estão perdendo espaço para os de discussão, onde a participação é livre.

— Pense numa aula de curso superior. Numa turma de 30 a 50 alunos, apenas três ou quatro fazem perguntas. Os 80% restantes têm outro estilo de aprendizagem. Erramos feio na educação a distância ao obrigar 100% dos alunos a fazerem perguntas ou participarem de fóruns — afirma.

Gilberto dos Santos já participou muito desses fóruns durante o seu curso a distância de História. Em uma dessas discussões, ele chamou atenção do professor que o convidou para ser seu orientando no mestrado.

— A carga horária é puxada. Eu digo para quem quer fazer que não vai ser fácil. As provas são todas discursivas — conta ele, que foi selecionado para uma bolsa em Lisboa e passará dois meses pesquisando o seu tema na capital portuguesa.

Fonte: Globo