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Qua, Maio

Redução de danos na educação pós-pandemia

Notícias EAD

Após mais de 18 meses de pandemia, os impactos no desenvolvimento de crianças e jovens vêm sendo analisados em todo o mundo, e os resultados não são nada animadores, especialmente no Brasil. Segundo a OCDE, fomos o país que manteve por mais tempo a pré-escola e o ensino fundamental sem aulas presenciais, e parte considerável dos estudantes não teve acesso adequado à internet para acompanhar as aulas remotas. Como consequência, estudos projetam uma queda nos níveis de aprendizagem, sobretudo dos estudantes mais vulneráveis, agravando as desigualdades. Esse contexto, aliado aos desafios que já existiam na educação, deveria mobilizar os governos a adotar modelos eficazes. Mais do que nunca, não há espaço para achismos.

Após mais de 18 meses de pandemia, os impactos no desenvolvimento de crianças e jovens vêm sendo analisados em todo o mundo, e os resultados não são nada animadores, especialmente no Brasil. Segundo a OCDE, fomos o país que manteve por mais tempo a pré-escola e o ensino fundamental sem aulas presenciais, e parte considerável dos estudantes não teve acesso adequado à internet para acompanhar as aulas remotas. Como consequência, estudos projetam uma queda nos níveis de aprendizagem, sobretudo dos estudantes mais vulneráveis, agravando as desigualdades. Esse contexto, aliado aos desafios que já existiam na educação, deveria mobilizar os governos a adotar modelos eficazes. Mais do que nunca, não há espaço para achismos.

No ensino médio, os efeitos foram devastadores. Um estudo realizado pelo Insper e pelo Instituto Unibanco, divulgado em junho deste ano, projetou uma perda de aprendizagem de 9 a 10 pontos na escala Saeb, cerca da metade do que se deveria aprender, por causa do fechamento das escolas. Os desafios para mitigação dessas perdas e para recomposição da aprendizagem dos estudantes passam, necessariamente, pelo uso de evidências. Alguns estudos e experiências internacionais exitosas já trazem esses elementos: foco nas relações mais humanas, com cuidado individualizado; expansão do tempo para uma recuperação eficaz de aprendizagem; e uma maior atratividade da escola, para evitar a evasão.

O levantamento internacional Recomposição das Aprendizagens em Contextos de Crise, realizado pela Vozes da Educação, revela que a tendência nos EUA e na Europa é investir em modelos de aceleração da aprendizagem. Ou seja, trabalhar com propostas de combate ao abandono escolar, de ampliação do tempo de ensino, de investimento em avaliações diagnósticas e programas que considerem competências socioemocionais dos estudantes.

No Brasil, já há formatos praticados no ensino público que geram bons resultados. São as políticas de ensino médio integral, que ganham ainda mais relevância por abarcar muitas dessas práticas apontadas.

No ensino médio integral, o tempo do estudante na escola é preenchido com abordagens que incluem desde projeto de vida até orientações de estudos e práticas de protagonismo. O formato tem ações de acolhimento, a fim de estabelecer o vínculo e desenvolver o pertencimento do jovem à escola, e conta com uma tutoria individual, em que cada aluno é acompanhado sistematicamente por um educador, que o orienta tanto na aprendizagem quanto no desenvolvimento da sua vida socioafetiva. Além disso, as avaliações de nivelamento permitem traçar estratégias personalizadas e conectadas à realidade dos estudantes.

Os resultados positivos do ensino médio integral são refletidos no curto prazo em relação à proficiência, à diminuição da defasagem e do abandono escolar e ao aumento da aderência à escola. No longo prazo, há melhora na empregabilidade e carreira de cada aluno. O modelo pode ser um caminho já testado para mitigar as perdas de aprendizagem provocadas pela pandemia.

O desafio vai além da recuperação do conteúdo não aprendido. Ele engloba um projeto de vida e a reconstrução do futuro desses jovens, para que voltem a acreditar na educação como um caminho possível. Esse é o momento de fortalecer nosso sistema educativo para que possamos dar conta do que é exigido pela sociedade do conhecimento. Só com uma educação de qualidade para todos seremos capazes de entrar numa rota de crescimento com redução das desigualdades socioeconômicas.

*Diretor-presidente do Instituto Natura
**Diretora-executiva do Instituto Sonho Grande

Fonte: O Globo